sexta-feira, 21 de setembro de 2007

A sentença de todos nós

Aqui vai uma pequena narrativa feita sobre a pena de morte...

- Venha, Simon – disse o carcereiro rispidamente – está na hora.

O homem chamado de Simon possuía uma longa barba grisalha, cabelos desgrenhados da mesma cor e aparentava muito cansaço. Ele levantou de sua cama de metal e lentamente caminhou até o carcereiro que o olhava fixamente.

- O padre está te esperando – sibilou o mesmo com um tom de desdém – arrependido?
- Não preciso de padres, gordinho – disse Simon sem alterar o tom da voz – ele não vai salvar minha vida.

Irritado pela provocação que o prisioneiro sempre fazia, o carcereiro o pegou fortemente pelo braço e o encaminhou para o corredor seguinte. O condenado cambaleou e seguiu em frente olhando o caminho que haveria de percorrer para encontrar sua morte. Seriam seus últimos passos de vida. Faltava pouco para a chama se extinguir. Simon recordou sua trajetória e não se arrependia do que havia feito. Como se adivinhasse o ocorrido, o guarda o interpelou.

- Você não me parece como os outros – fez uma pausa – digo, que estão no corredor da morte. O que fez para estar aqui?
- Justiça – sibilou Simon olhando fixamente para o final do corredor.

Ele parecia sem forças, totalmente conformado com seu destino, mas não sentia um temor como todos os outros. Simon era realmente diferente.

- Você torturou e matou dois estudantes de faculdade! – gritou o guarda perdendo o controle – Como pode dizer que fez justiça?
- Eles estupraram e mataram minha filha – respondeu Simon calmamente – você tem idéia do que é isso?
- Nada justifica – ironizou o guarda – você se igualou a eles.
- Não diga o que você não sabe! – sibilou Simon agarrando o colarinho do carcereiro com as mãos algemadas – você não imagina o que senti!

Por um breve instante eles se olharam e quando outros guardas ameaçavam intervir, Simon largou seu condutor e continuou andando com a mesma aparência calma e fria de instantes atrás.

- Ouvi dizer que estão tentando um recurso para alegar insanidade no seu caso – disse o guarda – acha que dá tempo?
- Não importa mais. Não preciso mais viver – respondeu o condenado – Fiz o que tinha de ser feito. Se eles fossem pobres não teriam sido inocentados.

Ao pensar nos dois garotos, a memória de Simon o conduziu ao reconhecimento do corpo da filha no instituto médico. A dor parecia ter voltado ao seu peito, vendo sua garota que estava prestes a completar dezessete anos, morta. A menina totalmente pálida, deitada na mesa metálica, não tinha mais aquela graça e o brilho nos olhos que agora estavam cerrados. Estava coberta de hematomas que indicavam uma brutalidade imensa. Voltava da escola quando os jovens a abordaram, obrigaram-na a entrar no carro. Eles a violentaram, espancaram-na e à beira da morte a deixaram na margem de um rio à sua própria sorte. O ódio voltava ao coração do pai que agora recordava o momento em que resolveu fazer a justiça. Ambos foram absolvidos em um tribunal lotado e a comemoração foi geral. Simon pegou sua velha espingarda e foi atrás dos dois, que na mesma noite foram a uma festa de faculdade para comemorar a sentença. Simon ordenou que todos saíssem, com exceção dos assassinos. Assustados, eles se entreolharam e foram para cima do homem alto, que apesar de grisalho, aparentava jovialidade com seu cabelo alinhado e a barba feita. Simon os jogou no chão com toda sua fúria. Espancou ambos com todo seu ódio e rancor.

- Agora vocês vão ter um pouco do que merecem! – vociferou Simon.

O homem amarrou os dois rapazes totalmente nus em duas cadeiras. Um de frente para o outro.

- Gostaram do que fizeram com a minha filha? – indagou Simon – Pois vou fazer com vocês, o que qualquer pai na minha situação gostaria de fazer!

Ao som dos primeiros carros de polícia, Simon retirou um grande facão de jardim e cortou as genitais dos dois rapazes que urraram com a dor insuportável. Deixou-os por longos dez minutos, sangue escorrendo entre as pernas e a insanidade ocultando a razão. Simon então pegou sua espingarda, colou na testa do primeiro e disparou. Assim fez com o segundo. Foi quando a polícia entrou e o rendeu imediatamente.

- Simon! – gritou o guarda.

O condenado havia aberto os olhos. O corredor não estava mais lá. Em seu lugar apareceu uma sala com uma maca. Em frente uma outra sala os assistia por um vidro. Os pais dos jovens lá estavam silenciados, estáticos.

- Parece que hoje não têm o que comemorar – sibilou Simon junto ao vidro – não é mesmo? Agora sabem o que eu senti. Não quiseram justiça para mim? Sabem o que busquei e não tive.
Os pais sentiam nojo do condenado, mas no fundo entendiam o que ele quis dizer. Então Simon foi deitado na maca. Amarraram-no firmemente e com a picada da primeira agulha viu toda sua vida passar, bons e maus momentos e uma agonia incontrolável. Por mais firme que estivesse, ele estava com medo da morte e do que vinha a seguir. Sua crença o levaria direto para o “inferno”, mas para onde sua consciência o levaria? Acreditou até o fim ter feito a coisa certa e ter vingado sua filha e quando o sono veio lentamente, percebeu que tudo estava acabando e então seus olhos fecharam para a escuridão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ai que orgulho do meu amor!!!

Parabéns amor, vc tem muito talento, e tenho plena convicção de que irá muito longe!!! Nunca desista do seu sonho pois com toda certeza colherá frutos ótimos!!!

Bjusss

Anônimo disse...

Fala aí, Thiago!
Cara, tô realmente impressionado com a sua articulação na hora de criar o texto que o profesor pediu.
Dá até gosto de ler algo assim.

Abraço, cara!