quinta-feira, 10 de setembro de 2009

21 de dezembro de 2012

Uma manhã de sol como há muito não se via. O dia em que o verão começou mais uma vez. Aquele não poderia ser um dia comum, afinal, a TV indicou que haveria um eclipse solar, e era impossível não acreditar, afinal, esse que vos fala, foi o autor da matéria.

As pessoas estavam agitadas nas ruas de São Paulo, pois o natal seria na noite de domingo. Os enfeites estavam espalhados, a maioria das festas de final de ano aconteceriam nesta noite e como já era tradicional, trocaríamos os presentes na redação.

Via a felicidade nos rostos das crianças, a empolgação de um tempo que não volta. Elas estavam tão concentradas em suas artes que mal perceberam o que acontecia. Da janela do meu carro, vi algumas pessoas apontando para cima. Via excitação no ar, afinal, não é sempre que se tem a oportunidade de acompanhar um eclipse completo.

Liguei o rádio, grande companheiro no trânsito, grande companheiro nas horas de trabalho e pude ouvir minha voz em um boletim: "aproveite paulistano, pois um alinhamento completo do sistema solar como esse, só acontecerá daqui a 26 mil anos".

Mas de que isso importava? Seriam apenas alguns minutos, em que um outro planeta, passaria entre a Terra e o Sol. Eu me sentia realizado, trabalhando com TV e Rádio, assinando uma coluna de jornal e os livros escritos por mim, estavam prestes a ser publicados.

Uma vida inteira lutei para alcançar meus objetivos e cada vez que lembrava minha trajetória, via que valeu a pena passar pelo longo caminho. Mas na reflexão daquela manhã de sexta-feira, eu não consegui chegar ao presente. Meu raciocínio foi interrompido por um tremor, seguido de gritos.

Eu não podia entender o que estava acontecendo. Um terremoto com tamanha intensidade acontecendo no Brasil? E a transmissão caiu. O rádio havia silenciado. E a terra continuava a tremer, cada vez mais forte, até finalmente romper o solo. Placas se amontoavam e eu dirigia sem parar.

Achei que não passaria daquele instante. Até que o tremor cessou. As pessoas pararam onde estavam sem acreditar no que havia acontecido. O chiado do rádio foi dando lugar ao sinal novamente e eu, fiquei ávido para saber quantos graus o temor teria atingido na escala.

O locutor, um grande colega dos tempos de faculdade, vacilou pela primeira vez no ar. Sua voz estava trêmula, provando que algo estava acontecendo. “os tremores... foram registrados em todo o planeta. O site oficial da Nasa acaba de confirmar que ocorreram justamente por um realinhamento do eixo do planeta”.

Aumentei o volume e me surpreendi com o que veio a seguir. “O globo passará por uma transformação jamais pensada”. E com a voz um tanto embargada disse: “foi imaginada apenas uma vez... Há pelo menos três mil anos, os maias previram que nesse dia 21 de dezembro, uma catástrofe de proporções... inimagináveis abateriam a civilização humana”.

Não parecia acreditar nas coisas que estava ouvindo. Por mais que gostasse de assuntos como aquele, nunca levei a sério tais coisas. Jamais acreditei em profecias desse tipo, e aquilo era demais para mim. Só que a narração não parou por aí.

“A informação que nos chega neste instante é que milhares de vulcões entraram em erupção em todo o mundo, devastando cidades inteiras e os oceanos estão fazendo com que países desapareçam do mapa, tal qual teriam feito nos tempos remotos com a Lemúria e a Atlântida. Sorte a todos”.

Com essa última deixa, a rádio saiu do ar novamente. Eu não conseguia digerir tais informações. Não poderia aceitar que acabaria ali, no meio de uma avenida, completamente devastada. Apesar de refazer meus passos mentalmente, eu nunca tinha feito o exercício de refletir sobre as coisas que deixei de fazer em nome de uma boa carreira. As festas perdidas, as horas não dormidas, as refeições mal feitas e as conversas que deixei de ter com as pessoas que amei.

Tudo isso foi se convergindo ao som do mar, que aumentava lentamente, em plena São Paulo. Conforme eu ia me vendo, o som do gritos se misturava com a onda que aparecia lentamente no horizonte. Seria lindo se não fosse o fim.

Pensar nessa ficção, foi um exercício feito para agradecer as oportunidades que tenho. Ao menos, tenho três anos pela frente, e o que posso fazer é viver mais, aproveitar cada instante, acordar para cada dia vivendo como se fosse o do tal ‘Juízo Final’, pois somente assim, poderei ser realmente feliz. O fim dos dias é o mergulho consciente na morte da alma, em que passamos a viver por hábito e não por prazer.