sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O véo que cobre o conhecimento

Pode haver dentro de um grupo ideais diferentes? Até onde este antagonismo pode chegar? O Nome da Rosa, de Jean Jacques Annaud, pode nos esclarecer um pouco mais sobre estas dúvidas.
A trama começa quando o frade franciscano Guilherme de Baskerville, acompanhado de seu aprendiz Adso de Melk, chega ao mosteiro beneditino para solucionar uma estranha morte. Eles notam que essa e as mortes seguintes estão ligadas à descoberta do conteúdo de um livro que pertence a uma biblioteca restrita. A “sede” de conhecimento de Guilherme o faz encontrar este local proibido e conseqüentemente o livro. Trata-se de uma obra do filósofo grego Aristóteles. As mortes cada vez mais estranhas não intrigam pela semelhança com o apocalipse e sim pela mancha negra na língua e nos dedos dos mortos. Para maior “confiabilidade” na investigação o Vaticano envia seus inquisidores a pedido dos beneditinos, comandados por Bernardo Gui. Este se mostra cruel e tendencioso em seu julgamento, condenando como herege qualquer um que se opusesse à sua opinião. Todos os sentenciados eram queimados na fogueira em nome de um “bem maior”. Guilherme causou um grande desconforto para a igreja, pois não via os acontecimentos como algo sobrenatural ou uma punição divina, mas como crimes cometidos por humanos. O franciscano descobriu a essência dos livros, que falavam sobre conhecimento antigo e razão. Paralelo aos crimes, o amor surge quando o jovem franciscano Adso se envolve com uma bela camponesa, ato que a igreja hipocritamente condena, mesmo que a maioria dos moradores do mosteiro também o praticasse freqüentemente.
O antagonismo na trama aparece entre franciscanos e dominicanos, que apesar de seguirem a mesma religião tinham ideologias totalmente diferentes. De forma mais específica, a grande divergência entre as duas partes é a divulgação ou não do conhecimento, comprometendo diretamente a cultura do povo na Idade Média. A igreja temia perder seu grandioso poder quando a racionalidade atingisse o povo e as pessoas soubessem que grandes pensadores viveram e ensinaram antes de Cristo. A força da igreja na época é algo nítido, pois era abastecida por camponeses locais e os pagava com repressão, acusações de heresia, abusos sexuais (apesar do celibato), ou seja, uma verdadeira lavagem cerebral que reprimia a ação popular, vivendo o temor constante de uma retaliação. As mortes mostram até onde o ser humano pode chegar, no caso, envenenando as páginas de um livro, e até queimando toda a biblioteca, omitindo assim, um passado repleto de informações que jamais serão reescritas.


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